A primeira das três linhas de produção planejadas está pronta e deveria estar funcionando há mais de um ano, desde o final de 2015, mas não há energia para pô-la em funcionamento. Por causa disso, o projeto --que inclui ainda a construção de mais dois galpões para armazenagem-- está parado.
Não há nenhuma movimentação de funcionários nem de caminhões, que deveriam abastecê-la com grãos de milho e soja produzidos na região.
A Nutridani não divulga o valor do investimento nem a expectativa de faturamento. Na época em que a obra foi anunciada, a Prefeitura de Cristalina divulgou que o investimento na primeira fase da obra seria de R$ 12 milhões. Segundo Gallo, cada linha teria capacidade para produzir 10 toneladas de ração por hora ou até 3.000 toneladas por mês, em dois turnos, a um valor de varejo superior a R$ 15 milhões.
E energia também não falta. "Hoje, com a queda do consumo por conta da recessão e com o preço nas alturas, há uma folga na oferta de energia no país", diz o professor Amaro Pereira, da Coope, que coordena as pós-graduações em engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O problema, aqui, é de distribuição da energia, responsabilidade da Celg Distribuição. A empresa pertencia ao governo de Goiás, não foi privatizada nos anos 1990, acabou sendo absorvida pela Eletrobras, em 2015, e, no final de 2016, foi arrematada pelo grupo italiano Enel Brasil, por R$ 2,2 bilhões, no primeiro processo de privatização do governo Michel Temer.
A falta de energia em Cristalina teve consequências para 700 vacas leiteiras da raça holandesa da fazenda Figueiredo, que estão entre as mais produtivas do país, com média de mais de 30 litros de leite por dia por cabeça. Para atingir esse volume, as vacas não podem passar calor.
O "conforto térmico" dos animais é proporcionado por um sistema composto de chuveiros automáticos, como os de equipamentos anti-incêndio, e enormes ventiladores. Primeiro, os chuveiros molham as vacas, depois, os ventiladores entram em funcionamento para ajudar a evaporar a água do couro dos animais, reduzindo, assim, a temperatura do corpo deles.
Mas o processo todo consome energia. Sem energia suficiente para todo o rebanho de cerca de 2.000 animais, 700 deles foram descartados, ou seja, vendidos para abate em frigoríficos. "Sem o conforto térmico, o animal começa a sofrer, e a produtividade também cai", diz Luiz Carlos Figueiredo, que usa geradores a diesel para os momentos em que a energia, que já é insuficiente, cai.
Segundo ele, as obras na linha de transmissão de 52 quilômetros que levará a energia da subestação de Rio Vermelho, em Luziânia, a Cristalina deve ser entregue no meio do ano e está orçada em cerca de R$ 30 milhões.
Asdrúbal Figueiró - UOL
Comentários