Chapecoense - Solidariedade à luz de velas



Das terras da Colômbia tingidas de sangue pela guerrilha e pela sanha dos sequazes de Pablo Escobar, entre outros, vieram as primeiras e transcendentes demonstrações de solidariedade aos atingidos pela queda do avião da companhia boliviana LaMia. Ao se espatifar no chão a cerca de 5 minutos do aeroporto de Medellín, o vôo interrompido varreu o time da Chapecoense do planeta e espalhou luto por boa parte do mundo.

Ainda sob o impacto dos grandes e incompreensíveis dramas humanos, os colombianos, eles mesmos acostumados a chorar por mortos em escala quase industrial, foram os primeiros a levantar a bandeira da solidariedade sem fronteiras e sem tabelas a cumprir. O próprio time do Atlético Nacional, que enfrentaria a Chape na noite desta quarta-feira, 30, na final da Copa Sul-Americana, propôs à Conmebol que o time brasileiro seja declarado campeão do torneio. E mais: a população de Medellin foi convidada a comparecer ao estádio na hora marcada para o jogo, vestida de branco e com velas nas mãos para homenagear os guerreiros que não chegaram ao campo da batalha e jamais voltarão para casa.

Não é o caso, aqui, de alinhavar incontáveis informações sobre o “como” e o “por que” desse acidente aeronáutico que fez brasileiros, colombianos, ingleses, espanhóis e representantes de tantas outras nacionalidades a envergarem o verde esperança da alegria que surgiu no Sul do Brasil com a velocidade de um meteoro. Com toda a força de impacto normalmente produzidas pelas grandes tragédias, a queda do vôo da LaMia despertou o lado cristão da solidariedade em seu estado mais puro. E vieram outras inusitadas propostas do mundo esportivo, como ceder jogadores gratuitamente para o campeonato de 2017 e isentar a Chape, como é carinhosamente chamada por seus torcedores, de ser eventualmente rebaixada nos próximos três anos.



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Igualmente emocionante foi a vigília dos chapecoenses na Arena Condá, palco de primorosas apresentações do clube Catarinense. Em campo não havia bola rolando, dribles desconcertantes e muito menos redes balançando. Apenas um grande silêncio, só quebrado por choros incontidos e adornados por lágrimas da mais pura emoção. Da mesma forma que a tragédia nos reconduz à percepção dos limites estreitos da finitude humana, ela tem também a propriedade de quebrar nossas barreiras sociais e permitir que o verdadeiro Eu, nosso espírito, se manifeste e se agigante na fraternidade.

Que pena que nós, humanos, ainda precisemos do combustível gerado pelo sangue derramado para entender que estamos todos no mesmo barco. Que a tristeza do outro nos atinge; que nossa imensa nave chamada Terra gira no espaço a estonteantes 1.600 quilômetros por hora e a qualquer momento seremos chamados a descer ao andar inferior totalmente despidos de poder, cargos, dinheiro e honrarias.

Talvez, quem sabe, dentro de algum tempo aquele time da Chapecoense não estará jogando e encantando nos campos do Senhor? Quem pode garantir que Deus também não gosta de um bom futebol, praticado com responsabilidade, determinação e garra? Que ousa romper limites e acreditar na realização do aparentemente impossível? Creio que é essa a lição que a turma da Chape nos deixou: acreditar até o último instante. Mesmo que os melhores esforços tenham como grande final a solidariedade e a compaixão à luz de velas.

Em tempo: As últimas notícias dão conta que o acidente pode ter sido motivado por falta de combustível. Não é de se admirar, a julgar o histórico da empresa de voar sempre no limite operacional, sem margem alguma de reserva. E mais: a empresa LaMia possui um retrospecto obscuro, sendo formada por um empresário espanhol radicado na Venezuela; um magnata chinês (Sam Pa) que já foi preso pelo próprio partido comunista de seu país sob suspeitas de corrupção; e o governo venezuelano, à época dirigido por Hugo Chaves – sempre ele.


Artigo por Antônio Spada

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