Vernissage Exposição "Restauro Octo Marques" - 20/07 - 6ª feira - 19h30 - Muban
A antiga capital de Goiás, Cidade-Mãe do criador, será a primeira a receber a exposição, chamada Centenário Octo Marques, entre 20 de julho e 17 de agosto, no Museu das Bandeiras (MUBAN). Em seguida as obras ocupam a galeria em Goiânia que leva seu nome, no Pathernon Center, Centro Cultural Octo Marques (CCOM), entre 24 de agosto e 21 de setembro. O projeto é da Balaio Produções Culturais e da Associação de Artesão e Artistas Amigos de Goiás-Aaamigos, conta com recursos da Lei Goyazes e do Fundo de Arte e Cultura de Goiás, a entrada é franca.
CONVITE
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Ao todo são 11 telas contendo temáticas regionalistas, com detalhes de cunho social, ambiental ou arquitetônico agregado, com marcas de um primitivismo discreto e vibrações parecidas com as de obras expressionistas, produzidas entre os anos de 1976 e 1985, sendo 10 delas coloridas, de tinta sobre tela, e um desenho de bico de pena, em papel. Os tamanhos das telas variam entre 22 centímetros até 1 metro de largura, por alturas que variam entre 16 e 73 centímetros.
Tela “Fórum da Cidade de Goiás” – 1985 – Óleo sobre tela |
Quem foi Octo Marques
Nascido em 1915, na Cidade de Goiás, então capital do Estado, a importância de Octo Marques está relatada em livros e matérias que relembram sua trajetória. O escritor José Mendonça Teles (1936-2018) o descreve como um dos artistas que se destacaram em Goiás no século 20. O jornalista Jaime Câmara (1909-1989), em 1978, escreveu que o artista dispensava apresentações e ocupava um lugar de relevo nos meios intelectuais goianos. Historiadores destacam a ligação desse criador com sua terra-natal, fonte de suas criações iconográficas e literárias.
Autodidata em Desenho, Pintura, Xilogravura e Cerâmica, Octo também foi jornalista e contista. Foi fundador da Associação Goiana de Imprensa (AGI) e da Escola de Artes Veiga Valle, na Cidade de Goiás. Começou sua carreira de artista aos 7 anos, pintando cenas de ex-votos para os romeiros das festas de Trindade. Em 1934 se mudou para o Rio de Janeiro onde foi colaborador e ilustrador da revista “Vida Doméstica”. Em 1936, já em Campinas, São Paulo, cursou o Instituto Cesário Motta e operou como foca nos principais órgãos da imprensa local. No ano seguinte mudou-se para a capital paulista onde trabalhou como revisor de “O Estado de São Paulo”. Em 1938 voltou ao estado de Goiás, burocratizando-se em Goiânia como escriturário na extinta Diretoria Geral de Produção e Trânsito. Passou a residir no bairro de Campinas, onde voltaria em outras ocasiões. Em 1943 demitiu-se do emprego público e retornou à Vila Boa onde em 1945 empregou-se na Prefeitura Municipal de Goiás. Se aposentou em 1973. Durante todo esse tempo, colaborou ainda nos jornais “Folha de Goyaz” e “O Popular”.
Apesar da trajetória profissional e artística consistente, Octo Marques levou uma vida sacrificada, passou por episódios de preconceito e discriminação relativos à sua maneira humilde de se portar no mundo (O Mendigo de Deus), e morreu em uma espécie de autoexílio, sem riquezas, poder ou repercussão. Em artigo, José Mendonça Teles (1989) resumiu a trajetória e a morte do artista, marcadas pela simplicidade:
“Octo Marques partiu recentemente. Sem alarde, sem jornal nacional, apenas a notícia correndo de boca em boca, trazendo aquele misto de compaixão e tristeza. Modesto, simples no seu mundo familiar, viveu Octo Marques seus últimos anos embriagado no álcool de sua solidão. Explorado por muitos, ele construía seus quadros em troca de alguns cruzados que lhe saciavam a fome e a sede do organismo debilitado. Quanto mais Octo caminhava para o fim, mais suas obras eram disputadas na bolsa da sociedade capitalista, em contraste doloroso. Ele, o artista, o mito, a glória de Vila Boa, catando migalhas na panela da opressão, enquanto os seus quadros disputavam o ‘black’ das ganâncias humanas..”
A restauração
As telas, esculturas, gravuras e livros de Octo Marques são verdadeiros tratados sobre o cotidiano, as belezas, a realidade cultural de uma região brasileira que se tornou símbolo de costumes e expressões de um povo nascido e criado no interior do Brasil, nos rincões de Goiás. São composições em tinta e prosa, sobre um tempo em que o universo rural era evidente, mesmo nos aglomerados urbanos. O artista retratava a Cidade de Goiás de forma sublime e autêntica, pincelando elementos comuns ao seu dia a dia. Uma pintura realista, formalmente ingênua, e distante das linhas acadêmicas provincianas.
Cássia Reis é a restauradora responsável pela recuperação das obras que serão expostas ao público goiano. Vilaboense de nascimento, com 38 anos de idade, há 10 se dedica à higienização e conservação de documentos, obras de arte e peças arquitetônicas históricas, tendo iniciado nesse ofício em 2008. Desde então vem atuando junto à empresas de Engenharia, para restauros encampados pelo IPHAN, em cidades de Goiás e de Minas Gerais, tendo se tornado Técnica em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis e Imóveis e Restauradora de Elementos Integrados.
Cássia Reis trabalhando na restauração das obras |
Cássia explica que sua relação com o pintor, a quem ela chama de “Seu” Octo Marques, vem desde sua infância. Ela comenta que cresceu sabendo quem era a pessoa de Octo, sobre o seu modo de vida simples e humilde, e também o seu valor enquanto mestre das artes pictóricas. Por isso, considera que o trabalho neste projeto lhe trouxe a oportunidade de saber ainda mais sobre as técnicas utilizadas pelo artista, como no caso do uso de tinta de sapateiro ou de açafrão, para pintura de telas. Algo inusitado e tecnicamente muito complexo e rico, pelo fato dele ter conseguido estabilizar estes pigmentos para suas criações.
Produtora Cultural e Assessora de Imprensa
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