Atriz Preta Rê viverá nos Tempos do Imperador, nova novela da Globo. Confira entrevista


O ser humano não pode aceitar se rastejar, se caiu, levante-se. Não tenho essa tristeza que muitos têm, dei a volta por cima’’. Preta Rê - Atriz

A Atriz Regina Lúcia da Silva, nasceu em Macuco no Rio de Janeiro. Ela é atriz e radialista com mais de dez anos de carreira. É também presidente da ONG Portas Abertas que ajuda muitas pessoas em situação de rua. Preta Rê, apelido carinhoso da qual gosta de ser chamada, estará no elenco da novela das seis da Rede Globo, Nos Tempos do Imperador (Novela de época que começa em 1856, um pouco mais de 30 anos após a independência do Brasil e que é ambientada no Rio de Janeiro, se desenvolve num Brasil jovem, que ainda busca sua identidade).

Mariana Ximenes, Selton Mello e Letícia Sabatella Nos Tempos do Imperador

Preta viverá uma escrava libertada na Pequena África, comunidade no Rio de Janeiro que reúne os negros alforriados ou que conquistaram a sua própria liberdade. A trama será exibida em breve. Por conta da pandemia, as gravações da novela foram paralisadas em 2020, com isso, houve um atraso, atrapalhando sua estreia. Contudo, agora em 2021, já acontece a continuidade das gravações, com todas as medidas e precauções de segurança em virtude do coronavírus.

Piores momentos da vida

Na vida real, Preta Rê, nunca foi uma princesa protagonista dos contos de fadas do reino da fantasia das novelas. Ela, sempre foi uma coadjuvante de uma vida sofrida, dura e bem difícil na realidade. Carrega muitas histórias que foram marcantes até hoje. Mas não pense que ela se deixou abater por conta destas dificuldades. A atriz tem uma linda trajetória de superação, motivação, garra e força de vontade, ela conseguiu dar a volta por cima e vencer as batalhas da indiferença e do preconceito racial.

A infância para Preta foi bastante sofrida. A sua mãe mantinha um relacionamento escondido com um homem que casado. Porém, a mulher alimentava a esperança deles viverem juntos depois que engravidou. O bebê nasceu, entretanto, o pai não assumiu. Anos mais tarde, as coisas pioraram muito na vida de Preta. Devido ao rancor, abandono e ódio que a mãe sentia pelo ex-companheiro, a mulher começou a descontar toda a raiva dizendo que odiava a filha, intensificando as constantes agressões físicas e espancamentos.

Rê, mesmo criança, já não aguentava mais. A garota decidiu sair de casa, aos sete anos de idade, porque a mãe tentou cortar a sua língua e depois quis matá-la por motivo torpe. Preta abandonou sua casa, virou andarilha e nunca mais voltou. Sumiu no mundo e se viu livre, para sempre,dos maus tratos vividos dentro do lar.

Dando a volta por cima

A saída das ruas aconteceu, aos 14 anos de idade. Agora não mais uma pessoa em situação de rua, Preta deu a volta por cima. Conseguiu chamar a atenção de uma mulher que a contratou como doméstica.

Acompanhe a entrevista:

Joacles Costa: Como foi a sua vida depois que você deixou a vida de andarilha? Sofreu algum preconceito mesmo fora das ruas?

Preta Rê: Por algum tempo eu vivi nas ruas até conseguir emprego como doméstica, era algo que fazia com muita dedicação, porém dentro de mim sabia que ainda queria algo mais além daquilo. Trabalhava na casa daquela senhora que me tirou das ruas. No dia do meu primeiro salário, ela me chamou e jogou o dinheiro todo no chão para eu recolher, demonstrando quem era que mandava. Eu mais que depressa me abaixei, fiquei catando igual uma doida no chão aquelas notas. Catei rapidamente, pois nunca tinha visto tanto dinheiro na minha frente. Eu só aprendi que aquilo era preconceito porque o meu patrão chegou na hora e me disse: “Levanta daí Regina. Não faça isso! Não se rasteje no chão. Você não tem que ficar com esse dinheiro. Ela está abusando de você. Isso aí é preconceito’’. Eu nem sabia o que era preconceito.

Era eu quem comprava o jornal para os patrões e numa uma destas ocasiões eu fiquei olhando para o jornal e só vi as letrinhas. Então eu pedi a ela que me ensinassem a ler e escrever. Ela virou para mim e disse que era para eu desistir de querer aprender porque eu era uma menina negra e negro não tem vez. Que eu nunca chegaria a lugar nenhum e morreria como doméstica. Fui muito humilhada.

Joacles Costa: O que a motivou a seguir a carreira de atriz? E quais foram as dificuldades no começo?

Preta Rê: Criei forças e coragem e logo me formei em enfermagem, uma profissão belíssima. Eu tratava meus pacientes com muito amor, cuidado e dedicação, mesmo assim sabia que ainda faltava algo.

Comecei a trabalhar como diretora social em um bairro que se chama “Maria Paula”, localizado em Niterói – Rio de Janeiro. Lá, permaneci por cinco anos, trabalhando perto das pessoas da comunidade e foi lá que conheci o teatro. Comecei a me apaixonar totalmente pela atuação, pois eu poderia representar a minha vivência de vida. Daí, de lá pra cá, não parei mais. Quando eu menos percebi, estava no sindicato dos artistas, onde me formei como atriz.

Quanto às dificuldades, devido a situação financeira no começo da minha carreira artística, por muitas vezes tinha que andar 3 a 4 horas de distância para chegar ao Teatro Municipal de Niterói e participar das aulas de expressão corporal. O que mais me abalou, infelizmente, foi o preconceito sofrido naquela época.

Joacles Costa: Vivemos em um momento em que se fala muito de empoderamento feminino. Como você vê a figura da mulher hoje no audiovisual?

Preta Rê: Até pouco tempo atrás a mulher tinha dificuldade de entender o que era submissão, ela entendia que submissão era o que estava escrito na Bíblia e era isso que deveria ser feito. Hoje, a mulher está muito mais independente, corre atrás de seus direitos. Quando são abandonadas pelos maridos elas se desdobram e conseguem sustentar os filhos e manter a casa.

Vejo mulheres ocupando cargos que não via até dez anos atrás, tais como motoristas de ônibus/uber, juízas, delegadas, Gari. O que mostra para a sociedade que a mulher não é frágil e nem fica lamentando-se pelos cantos. Hoje, a mulher vai à luta para conquistar o que ela quiser. Todos os dias eu vejo o empoderamento. Vejo a mulher conquistando algo para si e abrindo caminho para outras. Digo por mim mesma. Eu tinha medo até de entrar num banco. Hoje não, entro e resolvo meus problemas e pronto, bem diferente das décadas passadas. A mulher de hoje é procurada por sua atuação, dedicação ao personagem e não somente desejada por sua sexualização diante as câmeras. Ainda temos um caminho muito longo para percorrer. Um deles é a desigualdade salarial entra os gêneros em que elas, comprovadamente, ganham salários inferiores aos dos homens.

Joacles Costa: Nesse tempo de carreira tem alguma atriz que você mais gosta, que te marcou mais?

Preta Rê: Ah! Com certeza esta é fácil de responder. A grandiosa Zezé Motta.

Joacles Costa: Qual o principal objetivo com a criação da ONG?

Preta Rê: Bom, na verdade, nós não somos uma ONG. Somos um Projeto Social que deu certo há mais de doze anos. Mesmo antes da criação da ‘‘ONG’’ eu já era muito engajada em ajudar os moradores de rua, fazia quentinhas e distribuía. Com muito esforço e dedicação Conseguimos toda a documentação. A intenção de criação da ‘‘ONG’’ foi de melhorar e ampliar este trabalho que eu já fazia por conta própria. Devido a minha experiência de ter sido moradora de rua, sabia o que era fome. Já cavei muito lixo com minhas unhas para achar o que comer. Sei da humilhação que eles sofrem. Isso é algo que senti na pele dos sete aos 14 anos. Sei que mesmo depois que saí de lá, me lavei e a sujeira saiu. Porém, no mundo ainda existe muita sujeira debaixo do tapete, “debaixo da unha”, sendo que esta não sairá com água. Agora sei que mais pessoas estão sendo ajudadas e talvez vejam uma luz de esperança no fim do túnel, assim como eu também vi. Depois disso tudo, lutei e conquistei o que sou hoje. Realizei o sonho de ser atriz.

Temos o projeto do Itaú que chama o ‘‘Lixo que Vira Ouro’’ onde transformamos o lixo em roupas. Na reciclagem a gente recicla e depois o material vira vestido, o jornal vira uma saia. Trabalhamos diretamente com a comunidade, depois que as roupas estão prontas, nós vamos para uma cidade para desfilar nos eventos. Tudo o que se imagina do lixo, pode virar uma roupa. Eu fiz um vestido ele tinha quase 10 kg só de sacola plástica.


Joacles Costa
: Além da novela, você está com outros projetos (tanto atuais quanto futuros)?

Preta Rê: Tenho sim, bastante, só que devido a atual situação mundial muitos deles estão paralisados. No momento temos o “Lixo que vira ouro”, um projeto de reciclagem dentro da comunidade. É um projeto que está sempre sendo renovado. Tenho também um projeto de comédia com um personagem chamado “Mulher Canhão”, um Stand Up com o diretor e produtor Paulo Carvalho, que ainda não foi ao ar devido a pandemia.

Comecei a fazer rádio e hoje sou radialista. Trabalhei na Rádio Fluminense por dois anos, Rádio Record por três anos, Rádio Adonai e Rádio Aliança, com dez anos de profissão.

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