Uso do cigarro eletrônico pode antecipar diagnóstico da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica


Considerando que 90% dos pacientes diagnosticados com DPOC são ou foram fumantes, pneumologistas acreditam que o vaper será a principal causa da doença no futuro; enfermidade respiratória não tem cura, mas pode ser controlada com terapias inovadoras


Entre 1989 e 2021, a taxa percentual de fumantes acima dos 18 anos de idade no Brasil sofreu uma queda relevante, passando de 34,8% para 9,1%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) e do Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Simultaneamente a este expressivo resultado, o país registra um aumento da procura por dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), os famosos vapers, os cigarros eletrônicos, utilizados por 1 a cada 5 jovens entre 15 e 24 anos.

Em função dos efeitos da fumaça de cigarro nos pulmões, o tabagismo é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), uma enfermidade que atinge cerca de 210 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo em torno de 6 milhões apenas no Brasil.

A seguir, os pneumologistas Dr. Clystenes Odyr Soares, professor da UNIFESP, e Dr. José Roberto Megda Filho, avaliam as consequências dessa mudança de comportamento para a saúde dos brasileiros no futuro.

“O Brasil estava caminhando muito bem no controle do tabagismo e, infelizmente, o cigarro eletrônico veio de modo avassalador. Tudo o que se ganhou, certamente, estamos perdendo agora, porque o vaper é tão nocivo ou até mais do que o cigarro convencional. Não podemos deixar de mencionar que um fumante passivo pode desenvolver a doença na mesma intensidade de um fumante ativo: existem pessoas que nunca fumaram e adoecem pela exposição, conta Soares.

Proibidos no Brasil desde 2009 pela Anvisa e alertados pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) pelo fato de não haver comprovação científica de que esses produtos sejam inofensivos à saúde, os cigarros eletrônicos poderão vir a ser a principal causa de DPOC segundo Megda Filho, visto o contato precoce com a irritação causada pelos elementos químicos presentes. "São substâncias que se modificam quando expostas a altas temperaturas e irritam as vias respiratórias, alterando o sistema imunológico do pulmão e aumentando o risco de infecções, o que, por sua vez, facilita a penetração de vírus e bactérias. Essas inflamações e irritações crônicas podem fazer danos irreversíveis nas paredes dos alvéolos, é um quadro muito semelhante ao enfisema ocasionado pelo cigarro comum", explica.

Novo perfil de pacientes

Atualmente, a DPOC é uma doença que se manifesta majoritariamente após os 40 anos de idade, sendo 90% dos casos em indivíduos com histórico de tabagismo. A opinião de ambos os especialistas é unânime ao se discutir a possibilidade de mudança do perfil destes pacientes. “É fundamental considerar que o desenvolvimento total de um pulmão ocorre aos 25 anos. Considerando que adolescentes de 15 anos de idade têm contato com cigarros eletrônicos, é possível que tenhamos pacientes com casos DPOC aos 35, fugindo do estereótipo do idoso que fumou por décadas”, destaca Soares.

Megda ressalta, ainda, que o fato de a fumaça ser menos irritativa que o cigarro comum, a presença das essências que dão diversos sabores faz com que se perca a consciência do quanto se está fumando. A pessoa começa a fumar em ambientes inclusive fechados, em situação que não fuma o cigarro normal, como perto da família, em ambientes que com o cigarro normal seria criticado, como rodinha de trabalho, e começa a fumar mais. Ainda não é possível estabelecer em quanto tempo o vaper criará uma lesão no pulmão, mas é fato que as substâncias tóxicas podem sim causar injúrias respiratórias de alta gravidade”.

DPOC

A DPOC está associada à exposição ao fumo, poluição e gases tóxicos, que provocam alterações progressivas na estrutura e função do pulmão, como o enfisema pulmonar e a bronquite crônica. Entre os principais sintomas da DPOC, estão a dispneia: falta de ar aos esforços que pode progredir até para atividades simples do dia a dia, como tomar banho; e a tosse crônica: geralmente produtiva, com expectoração de muco ou catarro.

Apesar de não ter cura, a DPOC pode ser controlada. Através do exame de espirometria é possível fechar o diagnóstico e determinar a gravidade da doença, fatores chaves para a escolha terapêutica adequada. Existem tratamentos disponíveis no SUS que atuam para retardar a progressão da doença, controlando os sintomas e reduzindo as complicações. Em caso de sintomas, busque um médico.
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